I – Introdução
Em 1921 Jung trouxe uma contribuição fundamental para o entendimento da tipologia humana, ao escrever um de seus mais importantes trabalhos, o livro “Tipos Psicológicos”. Neste trabalho Jung propôs uma teoria dos tipos psicológicos, que influenciam a personalidade e o comportamento de cada indivíduo. Esta teoria inclui também a distinção entre atitudes de introversão e extroversão, bem como as funções psicológicas de pensamento, sentimento, sensação e intuição.
II - Os tipos psicológicos
Jung distinguiu duas formas de atitudes/disposição das pessoas em relação ao objeto: a pessoa que prefere focar a sua atenção no mundo externo de fatos e pessoas (extroversão), e/ou no mundo interno de representações e impressões psíquicas (introversão). Cada tipo de disposição representa tão somente uma preferência natural do indivíduo no seu modo de se relacionar com o mundo, semelhante à preferência pelo uso da mão direita ou da mão esquerda.
A
distinção que Jung faz entre introvertidos e extrovertidos reside
na direção que seus interesses possuem e no movimento da libido,
que Jung entende como sendo energia psíquica. Podemos, então,
entender extroversão como o enfoque dado ao objeto e introversão
como o enfoque dado ao sujeito. Assim, em relação ao tipo
introvertido e extrovertido ele revelou: “um encarrega-se da
reflexão; o outro, da iniciativa e da ação prática.” Para Jung,
“a extroversão e a introversão são duas atitudes naturais,
antagônicas entre si, ou movimentos dirigidos. Em sucessão
harmônica, deveriam formar o ritmo da vida. Alcançar esse ritmo
harmônico supõe uma suprema arte de viver.”
Na extroversão, a energia da pessoa flui de maneira natural para o mundo externo de objetos, fatos e pessoas, em que se observa: atenção para a ação, impulsividade (ação antes de pensar), comunicabilidade, sociabilidade e facilidade de expressão oral. Extroversão significa “o fluir da libido de dentro para fora.” O indivíduo extrovertido vai confiante de encontro ao objeto. Esse aspecto favorece sua adaptação às condições externas, normalmente de forma mas fácil do que para o indivíduo introvertido.
Na
introversão, o indivíduo direciona a atenção para o seu mundo
interno de impressões, emoções e pensamentos. Assim, observa-se
uma ação voltada para o interior, hesitabilidade, o pensar antes de
agir; postura reservada, retraimento social, retenção das emoções,
discrição e facilidade de expressão no campo da escrita. O
introvertido ocupa-se dos seus processos internos suscitados pelos
fatos externos. Dessa forma o tipo introvertido diferencia-se do
extrovertido por sua orientação por fatores subjetivos e não pelo
aspecto objetivamente dado. Jung aponta para o fato de que a
expressão “fator subjetivo” não deve ter a conotação
preconceituosa de algo que foge à realidade.
Segundo
Jung nenhum ser humano é exclusivamente introvertido nem
extrovertido: “ambas as atitudes existem dentro dele, mas só uma
delas foi desenvolvida como função de adaptação; logo podemos
supor que a extroversão cochila no fundo do introvertido, como uma
larva, e vice -versa.”
Na
visão de Jung, o Tipo Psicológico de um indivíduo é determinado
pela introversão ou extroversão, e por quatro funções conscientes
que o ego habitualmente emprega, as funções psíquicas.
III – As funções psíquicas
Em paralelo à Teoria dos Tipos Psicológicos, Jung desenvolveu também a Teoria da Personalidade, que é baseada em quatro funções psicológicas. São elas: pensar (refletir), sentir, perceber e intuir. Em cada pessoas essas funções se manifestam de maneira diferente. Normalmente, uma tem maior predominância sobre as outras.
Para
explicar as diferenças dos Tipos Psicológicos, Jung lançou mão do
conceito de Função Psíquica ou Função Psicológica. Esta é uma
atividade da psique que apresenta uma consistência interna, sendo
uma atribuição congênita, que estabelece habilidades, aptidões e
tendências no relacionamento do indivíduo com o mundo e consigo
mesmo. O modo preferencial de uma pessoa reagir ao mundo deve-se
dentre outras razões, à herança genética, às influências
familiares e às experiências que o indivíduo teve ao longo de sua
vida.
Além dos dois tipos de atitude, a extroversão e introversão, Jung verificou que existiam diferenças importantes entre pessoas de um mesmo grupo, ou seja, um introvertido poderia diferir muito de outro introvertido. Para Jung, essas diferenças entre os indivíduos eram causadas pelas diversas maneiras com que as pessoas utilizam suas mentes, ou seja, pelas funções psíquicas e/ou processos mentais preferencialmente utilizados pela pessoa para se relacionar com o mundo externo ou interno.
Jung,
então, identificou quatro Funções Psíquicas que a consciência
usa para fazer o reconhecimento do mundo exterior e orientar-se. Ele
definiu as funções como: Sensação, Pensamento, Sentimento e
Intuição – estas, junto com as atitudes de introversão e
extroversão, representarão os Tipos Psicológicos. Segundo Jung,
existem duas maneiras opostas através das quais percebemos as coisas
– Sensação e Intuição – e existem outras duas, que usamos
para julgarmos os fatos – Pensamento e Sentimento. As pessoas
utilizam diariamente esses quatro processos.
A Sensação e a Intuição são funções irracionais, uma vez que a situação é apreendida diretamente, sem a mediação de um julgamento ou avaliação.
A
função sensação é a função dos sentidos, a função do real, a
função que traz as informações (percepções) do mundo através
dos órgãos do sentidos. Pessoas do tipo Sensação acreditam nos
fatos, têm facilidade para lembrar-se deles e dão atenção ao
presente. Essas pessoas têm enfoque no real e no concreto, são
voltadas para o “aqui – agora” e costumam ser práticas e
realistas. Preocupam-se mais em manter as coisas funcionando do que
em criar novos caminhos.
O
oposto da função sensação é a função Intuição, onde a
percepção se dá através do inconsciente e a apreensão do
ambiente geralmente acontece por meio de “pressentimentos”,
“palpites” ou “inspirações”. Os sonhos premonitórios e as
comunicações telepáticas via inconsciente são algumas das
propriedades da intuição. A intuição busca os significados, as relações
e possibilidades futuras da informação recebida. Pessoas do tipo
intuição tendem a ver o todo e não as partes, e, por isso,
costumam apresentar dificuldades na percepção de detalhes.
As
funções Pensamento e Sentimento são consideradas racionais por
terem caráter judicativo e por serem influenciadas pela reflexão,
determinando o modo de tomada de decisões. Estas funções são
também chamadas de funções de julgamento, responsáveis pelas
conclusões acerca dos assuntos de que trata a consciência. Se nas
funções perceptivas a palavra é a apreensão, nas funções de
julgamento a palavra é apreciação.
A
função Pensamento estabelece a conexão lógica e conceitual entre
os fatos percebidos. As pessoas que utilizam o Pensamento fazem uma
análise lógica e racional dos fatos: julgam, classificam e
discriminam uma coisa da outra sem maior interesse pelo seu valor
afetivo. Procuram se orientar por leis gerais aplicáveis às
situações, sem levar em conta a interferência de valores pessoais.
Naturalmente voltadas para a razão, procuram ser imparciais em seus
julgamentos.
A função racional que se contrapõe à função Pensamento é a função Sentimento. Quem usa o Sentimento julga o valor intrínseco das coisas, tende a valorizar os sentimentos em suas avaliações, preocupa-se com a harmonia do ambiente e incentiva movimentos sociais. Utilizam-se de valores pessoais (seus ou de outros) na tomada de decisões, mesmo que essas decisões não tenham lógica do ponto de vista da causalidade.
Ao demonstrar as quatro funções, Jung escreveu: “Sob o conceito de Sensação pretendo abranger todas as percepções através dos órgãos sensoriais; o Pensamento é a função do conhecimento intelectual e da formação lógica de conclusões; por Sentimento entendo uma função que avalia as coisas subjetivamente e por Intuição entendo a percepção por vias inconsciente. A Sensação constata o que realmente está presente. O Pensamento nos permite conhecer o que significa este presente; o Sentimento, qual o seu valor; a Intuição, finalmente, aponta as possibilidades do “de onde” e do “para onde” que estão contidas neste presente. As quatro funções são algo como os quatro pontos cardeais. Tão arbitrárias e tão indispensáveis quanto estes.”
IV – A Função Dominante
Ao analisar as quatro funções durante o desenvolvimento psíquico, Jung constatou ainda que uma das funções se diferencia e se torna a função dominante ou a principal, enquanto outra função se desenvolverá com menos intensidade, tornando-se a função auxiliar da primeira.
Segundo Jung, dentre as quatro funções psíquicas, existe sempre uma preferida pelo sujeito. Em virtude de seu maior uso, esta função torna-se mais desenvolvida e diferenciada. Existe pois, uma tendência de utilizarmos o nosso lado mais apto. A função dominante surge pelo exercício e pelo desenvolvimento de traços congênitos. Ao longo do tempo, ela se torna superior às outras, o que significa que ela é mais desenvolvida do que as demais, uma vez que se faz um uso maior dela do que as outras, o que determina o aspecto funcional do Tipo Psicológico.
A função dominante também chamada função principal caracteriza o Tipo Psicológico do indivíduo, dando a ele suas características psicológicas particulares. Cada indivíduo utiliza de preferência sua função principal, a fim de obter melhores resultados na luta pela existência, conforme escreveu Jung: na luta pela existência e pela adaptação, cada qual emprega instintivamente sua função mais desenvolvida, que se torna, assim, o critério de seu hábito de reação. Assim como o leão abate seu inimigo ou sua presa com a pata dianteira (e não com a cauda, como faz o crocodilo), também nosso hábito de reação se caracteriza normalmente por nossa força, isto é, pelo emprego de nossa função mais confiável e mais eficiente, o que não impede que às vezes, também possamos reagir utilizando nossa fraqueza específica.
V – As Diversas Combinações
A personaliade de cada um derivará da combinação de seu tipo psicológico dominante com as funções psíquicas de manifestação primordiais do indivíduo.
Desta forma, há 8 possiblidades de combinação e, portanto, 8 tipos de personalidades possíveis. São elas:
_ introvertidos-reflexivos
_ introvertidos-sentimentais
_ introvertidos-perseptivo
_ introvertidos-intuitivo
_ extrovertidos-reflexivos
_ extrovertidos-sentimentais
_ extrovertidos-perseptivo
_ extrovertidos-intuitivo
VI – Considerações Finais
Jung apontou que as atividades das quatro funções, quando se realizam em graus muito desiguais, podem causar perturbações neuróticas. Se uma função não é empregada, diz ele, há o perigo de que escape de todo do manejo consciente, tornando-se autônoma e mergulhando no inconsciente, onde irá provocar uma ativação anormal. Isso diz respeito especialmente à quarta função (ou função inferior).
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